Tenho um amigo que, quando está perdendo uma discussão, diz “não sei, não sei”. Ele tenta argumentar, mas ao perceber que os argumentos do outro fazem muito mais sentido, vem o “não sei, não sei”. Sabe, mas não quer dar o braço a torcer. Então, se conversamos sobre algo em que temos opiniões opostas e surge o “não sei”, já concluo: “xeque-mate”.
Quando, realmente, a pessoa não está convencida, é justo manter a dúvida. Mas, se existem fatos que comprovam o contrário do que ela pensa, não admitir que está errada é apenas um sinal de que o ego é maior do que a razão. Arrogância mesmo. O popular cabeça-dura, que só aceita como verdade aquilo que lhe convém.
Pois o Brasil está virado em um país de cabeças-duras. Se a história contada é diferente da que querem ouvir, ignoram ou atacam, não importa de onde vem. Não importa a formação ou o quanto tem a perder o profissional que conta essa história; se não é o que querem ler, desconsideram a qualificação e pronto.
Sou jornalista. Tenho registro profissional no Ministério do Trabalho, conquistado após quatro anos de faculdade, onde estudei, entre outras coisas, Técnicas de Redação (1, 2, 3 e 4) e Legislação e Ética. Na primeira, aprendi a escrever de forma clara e correta. Na segunda, a conhecer minhas obrigações e meus limites profissionais. Um exemplo bem corriqueiro: por lei, não posso chamar um homem que matou a esposa de assassino, ainda que tenha sido preso em flagrante. Até que seja julgado e condenado, só posso chamá-lo de suspeito. É lei! Não é posição política.
Graças à “mistura do mal com o atraso”, Gilmar Mendes, desde 2009 não é necessário ter diploma para requerer o registro ou apenas atuar como jornalista. Logo, qualquer pessoa, bem intencionada ou não, cria um blog e publica o que quiser. Muitas vezes, textos inofensivos; outras, com a intenção de difamar mesmo disfarçado de notícia. Veículos sérios, no entanto, só contratam profissionais formados ou com o curso em andamento, porque há um negócio todo em jogo para largar na mão de amadores ou de quem não tem nada a perder.
Com isso quero dizer que a mídia é 100% isenta? Não, estão aí algumas emissoras de televisão para provar. Mas isso não quer dizer que não seja séria. Quando uma reportagem investigativa é publicada, não há uma só frase que não seja comprovada pelas fontes do jornalista, sejam elas documentos ou pessoas. Goste você ou não do que foi denunciado, aquilo é verdade. Um profissional passou dias, semanas, meses às vezes, buscando informação, conferindo, batendo dados. Se o jornal decide publicar, existem duas reputações em jogo: a do jornalista e a da empresa.
O que está em risco quando uma pessoa qualquer publica uma fake news e você repassa? Nada. O que acontece com quem inventa notícias levianas e posta no facebook como verdade? Nada. Então por que não espalhar o que as pessoas querem ler ou ouvir e ganhar dinheiro com isso? E daí que não é verdade? Eles têm a “informação” que querem e nós temos os cliques que precisamos. Triste, né? Mas é assim que funciona.
A manipulação, tão condenada, está na falta de pensamento crítico, não nos veículos de comunicação. Quem não tem discernimento para avaliar uma notícia do Jornal Nacional também não o terá para um post do MBL. Não culpe o jornalista, muito mal remunerado no Brasil, pelo jornalismo que você não quer ler. Culpe a sua arrogância pelas escolhas erradas das suas fontes de informação.